Capítulo 4 ( Parte 51)

Luan perdia as forças, nada que falava fazia efeito, começava a desistir, procurava em seus pensamentos algo que pudesse a convencer, que o favorecesse: - Ela precisa de nós. -  fala quase inaldível, refere-se a criança.

- Ela terá a nós. – confirma fria.

- Digo nós juntos, o pai e a mãe. – sua expressão era triste, mais não afeta Vanessa em nada.

- Você sempre será o pai dela, temos finais de semana, feriados...

- Não quero ser pai só de final de semana, feriados e aniversário! – perde a paciência - eu quero acompanhar essa gravidez, estar lá na hora do nascimento, segurar no colo, botar pra dormir enquanto você descança, comprar nossa casa com um jardim cheio de grama lembra? Com flores e um balanço pra brincarmos nos fins de tarde, levar ela na casa dos meus pais aos domingos, ensinar a tocar violão, contar histórias. Por favor, não me tire isso...

- Eu não estou tirando isso -  admite -  você é o pai, não nego esse direito, porque eu não fiz essa criança sozinha, mais será diferente, todo mundo vive bem e cuida bem dos filhos separados, ninguém nunca morreu que eu saiba, nós conseguiremos.

fechava os olhos tentando manter a calma falava cada palavra com cuidado:- Eu não sou todo mundo, não sou moderno, não quero viver longe do mei filho! 

- Você não vai ter tempo pra ele, não vai fazer diferença -  Vanessa precisava usar disso, se ele continuasse insistindo com as palavras “nosso filho, nosso...” seria capaz de dar com o pé atrás e continua -  você não vai fazer falta. -  repete fria de cabeça baixa.

- Como é que é? Eu não vou fazer falta? – não acreditava. – Por favor, não repita isso, não sabe o quanto dói...

- Você não suportou o nosso relacionamneto Luan... não vai conseguir conciliar o trabalho com função de pai. – tentava arrumar desculpas mais Luan não se deixa abalar.

- Com você do meu lado, eu me arrisco tentar, largo carreira, diminuo os shows, mudo de cidade, de país, mais somente se você e essa criança estiverem comigo, não tire o meu chão quando eu acabei de ganhá-lo...

- Eu não estou tirando o seu direito de pai eu....- não sabia o que dizer.

- Você está tirando parte de mim, ou o resto de mim, porque já perdi você. – admite -  só de imaginar dói, mais eu mereço isso, afinal quem mandou beijar outra não é mesmo? Quem mandou ser idiota. Mais me perdoa por favor? Me dá...outra chance? – assumia a culpa, e o silêncio tomava conta daquele lugar, até o mar estava quieto, parecia prestar atenção em tudo..

- Luan...acho que o melhor é esquecer, esquecer esse amor, esquecer as dores, começar o que a gente parou lá atrás, nossos antigos planos, como teria sido nossas vidas sem isso entende? – buscava soluções.

- Isso que você fala é referindo-se ao nosso amor? – ela concorda -  A minha  vida não teria valido a pena sem isso, você sem perceber me transformou, me fez sair do meu mundo de shows e estrada e me deu sentido. De todos os “amores” que eu julguei ter tido, nunca foram como você, eu me arrisco até em dizer que talvez nunca foi amor -  falava como quem contando uma história – sabe...eu nunca fui romântico, o máximo que fiz foi uma canção pra uma namoradinha antiga, o que não foi diferente de você que me deu inspiração... mais você me fez ir além, me fez cometer loucuras, viajar pela madrugada pra poder te ver ao amanhecer, virar a noite e programar viagens inesperadas, Paquetá, Iguaçu lembra? – ela concorda e ele continua – passar por cima de “normas” em minha carreira, adiei shows, sumi por quatro dias naquela fazenda, só por você, e não me arrependo um instante, poderia não estar em meus planos tudo isso, namoro, loucuras, mais veio no momento certo, e gosto das coisas assim, QUE acontecem sem explicação, como foi o nosso amor, aconteceu, não se explica, se sente.

Ela ouvia a tudo em silencio, com inundações de lembranças e flashs de momentos dos dois, mais sabia que ele não tinha parado, tinha mais.

 - E quem diria que um simples acaso naquele aeroporto, onde esbarramos... – pensa lembrando daquele dia, fazendo Vanessa ir alem também, imaginando a mesma cena -  tínhamos tanta pressa  e você me fez parar, eu te fiz parar, mais o principal, você parou meu mundo, não importava se tinha milhares de fãs correndo atrás de mim, se eu tinha uma coletiva naquele dia, visitar várias rádios, dois shows em cidades diferentes,  juro por Deus que a imagem do seu rosto depois daquele dia nunca mais saiu de mim, até hoje...vivemos tantas coisas juntos, e mesmo tendo um dia agitado, e a noite também, eu sempre senti sua falta, acredite, não teve um dia depois daquele encontro no aeroporto em que não pensei em você, em que não desejei tê-la em meus braços, quando nos separamos e tive que te esperar por um ano foi – respira – foi morrer um pouco a cada dia, foi um midto de tristeza, mágoa, culpa, mais doía, porque era amor, sempre foi... te conquistar e conseguir seu perdão naquele dia na fazenda, foi recuperar meu chão, colorir meu mundo, dar brilho ao meu céu cinzento...e aqui agora, diante desse sol, - olha as nuvens querendo cobri-lo – eu me vejo exatamente como ele, existo mais não posso brilhar, as nuvens insistem em me esconder...estou no escuro mais uma vez... 

- Luan eu...

- Deixa eu continuar? – ela silencia – quando eu vi você chorando naquele chão, machucada, e as pessoas dizendo que estava grávida...tudo em minha volta mudou, eu já te disse mais volto a repetir, a idéia de ser pai me soa tão doce, tão inusitada, um misto de medo e expectativa, mais no fundo eu queria passar aquela multidão, pegar em sua mão e gritar “eu sou o pai”! Sofri com a ideia de você perder nosso filho, era uma dor quase mortal e complicada de entender, como amar uma vida que ainda está em formação? Fácil, quando esta é parte sua, e precisa de você. A sensação era a de decepção, você é sorteado, ganha um prêmio mais não tem o direito de recebê-lo. Me senti assim, perdendo o meu prêmio, não diferente de agora, ainda me sinto assim, só que perdendo em dose dupla. – ela começa a olhá-lo com ternura, impossível não se comover com sua dor, o bebê ainda imperceptível, parecia entender mais do que ela, sentia algo em sua barriga, como se ele “reclamasse” alguma coisa, ou estivesse do lado do pai.

- Mais quando sua mãe me disse sua idéia de “produção independente” eu desmoronei, não sei nem porque pensei que sua reação seria diferente, que esse filho mudaria tudo, que você não levaria a sério -  ri irônico – me enganei. – ela observa uma lágrima se formar no canto do seu olho, mais ele tentava ser forte, não deixa cair – pensei em nossos planos, nas nossas discurssões sobre o nome do bebê, nossa casa na praia, me imaginar casado com você, com um bebê no colo, aquela criança branquinha, com cabelos loiros no tom dos seus e olhos iguais aos meus, minha família...- pensa mais uma vez, deixando Vanessa curiosa, qual imagens ele projetava em sua cabeça? – foi um erro não termos tomado precaução naquela noite? Foi. Poderiamos ter evitado isso? Poderiamos, mais eu já amo essa criaturinha, mais do que a mim, nunca entendia quando meu pai me dizia que a família dá sentido ao homem, hoje eu entendo, tudo muda de figura, você deixa de viver no preto e branco, seu mundo começa a ganhar cor. Nunca escondi que com você que eu queria construir minha família, não tão cedo como agora, mais...aconteceu, é tudo tão novo, como começando do zero...e ao mesmo tempo chegando ao fim...

 Vanessa resolve falar: - Sempre temos um novo começo, só que agora separados quanto ao bebê... – Vanessa para, Luan parecia estar sussurrando alguma coisa, quase inaldível, face fitando o horizonte, sem expressão, ela começa a prestar atenção, na tentativa de entender a mensagem.

Luan apostava em sua última cartada, já que a conversa toda parecia em vão, sozinho a noite depois que tudo tinha acontecido ele começou a compor, ocupava sua mente e jogava o que sentia nas letras rabiscadas numa folha branca, e sempre expressou suas palavras, seus sentimentos em forma de música, não seria diferente agora, ele sem a ajuda do violão, arriscava solo, mentalizando no barulho das ondas do mar, de olhos fechados cantava baixinho.

Eu sei que já não tenho idade
Pra ficar tão dependente.
Mas eu notei quando te olhei,
Você me fez pensar pra frente.
Por mais que eu tente desviar,
Tô sempre em sua direção
Parece que eu soltei do mundo,
E segurei só na sua mão.

Tava pensando em te roubar
Fugir pra longe do país
Comprar um lugarzinho em Cancún
Não é que você sempre quis

Sem precisar me preocupar
Em te levar pra casa cedo
Enquanto eu estiver do seu lado
Não precisa mais ter medo

Porque se me perguntar
Quem eu respiro é você, você, você
Se for pra escolher
O céu ou a terra, respondo você
Se quiser saber
Minha alegria é te ver, te ver, te ver

Quem sabe eu te quero tanto assim
Porque eu esqueci de te esquecer.

Silêncio. Quando ele abriu os olhos, ela chorava, com o dedo polegar secou algumas lágrimas que insistia em escorrer pelo seu rosto, ela não jogou sua mão fora, como pensava que ia acontecer, deixou ele cuidar dela, era disso que ela precisava, de cuidados, de carinho. – Era a única forma de me expressar, de dizer o que sinto, sempre fiz uso da musica ao meu favor, e essa e minha ultima tentativa – começa a falar mais uma vez -  não adianta me pedir pra te esquecer, eu não posso, esse sentimento aqui dentro é imutável. Não quero que me perdoe, porque sei que isso é fácil, quero conquistar sua confiança, te dizer que foi só um deslize que não vai mais acontecer, eu te amo, e amo ainda mais por carregar dentro de você uma parte de mim, uma parte nossa, tão nossa, feita com muito amor, em um momento especial, NOSSO FILHO.. 

Silêncio.

- Não digo que foi um erro, mais um milagre, por favor, por favor, eu suplico mais uma vez. – silêncio – eu sinto sua falta -  fala pausadamente e lendo esses dias, algo que fiz muito, mais que só me fazia cada vez lembrar mais de você, li algo parecido com isso, a falta mostra o quão necessitamos de alguém. É assim o nosso ciclo. Eu te preciso. Perto, longe, tanto faz. – Vanessa conhecia essas palavras, já as tinha lido no mesmo livro de frases da sua mãe, quando levanta a cabeça e olha pra Luan, suas ações impedem suas palavras, num gesto rápido ele a beija, a toma pelos cabelos, acariciando sua nuca, ela reluta mais cede, não existia sensação melhor no planeta do que o suave toque dos lábios dele. E maisuma vez o mundo parou, sempre era assim no encontro de suas bocas, os sentimentos vinham á tona, sensações, desejos, amor. Tudo parecia estar bem, Luan ao término do beijo sorria, tinha mesmo conseguido? Aquele beijo tinha algum significado? - Mais seu sorriso se desfaz pouco a pouco ao vê-la levantar o olhar com lágrimas, morde o canto da boca e tirar dois objetos brilhantes do bolso e deixá-las junto dele na areia e sair caminhando sem olhar para trás. Deixando a sensação de último beijo, última vez, despedida, término.

CONTINUA...

Amores, desculpem pela demora...

Tá corrido demais, postei cedo hoje porque vai ser meu único momento de tempo...

Enfim!! Té amanhã!

Não se preocupem...confiem em mim tá?

Paz&Bem